2024: Solidão Crescente e Economia de Relações – Um Olhar Controverso

Em todo o mundo, celebrou-se o Ano Novo, desejando um 2024 repleto de saúde, paz e amor. Nos olhares, percebeu-se a esperança, e nos sorrisos, compartilhou-se a alegria pelo ano que se iniciava. Conforme o site da Caixa Notícias, a 15ª edição da Mega da Virada registrou mais de 485,25 milhões de apostas em todo o país, representando, para alguns, a expectativa de um futuro melhor, e para outros, a solução de desafios financeiros e emocionais. Em 2024, muitos carregam sonhos não realizados de 2023 e expectativas para adquirir a casa própria, um carro zero, passar em concursos públicos, alcançar renda mensal acima de 5 mil e outras metas preestabelecidas.

No entanto, pouco se discute sobre como as pessoas estão caminhando para a solidão e o individualismo. Ao pesquisar apartamentos para compra, deparei-me com a frustração de encontrar imóveis à venda com apenas um quarto. Logo pensei: “E se eu tiver filhos? E se meus pais precisarem morar comigo? E se houver a necessidade de receber amigos e parentes?”. O setor imobiliário tem priorizado mínimos gastos de construção, visando maiores lucros. Casas cheias de crianças deram lugar a pets ou outros animais de estimação. Os bolos de aniversário “gigantes”, onde família e amigos se reuniam para celebrar a vida, deram espaço a bolos individuais ou para um número mínimo de pessoas. Percebe-se a normalização do mínimo no cotidiano, à medida que as pessoas se adaptam a essas mudanças que afetam também o setor financeiro, diante do aumento do custo de vida, levando os indivíduos a reorganizarem sua vida em sociedade.

No meio gospel, fala-se muito sobre a dispensabilidade de congregar em templos de igrejas, e, desde a pandemia, cresce a ideia de realizar cultos nos lares por meio de cultos online ou lives no Instagram. Algumas empresas, como as de telemarketing, já adotam o trabalho em home office, proporcionando comodidade e facilidade, mas também estimulando o isolamento. A residência torna-se o ambiente de trabalho, substituindo o espaço antes destinado ao descanso, lazer e relacionamento familiar. Agora, não há mais o momento do cafezinho com colegas de trabalho, apenas a conexão virtual para dúvidas e direcionamentos. A tecnologia, por meio das redes sociais, traz avanços significativos, mas também gera indivíduos que perderam o hábito de se relacionar presencialmente.

No cotidiano, espaços públicos como praças, calçadas e visitas domiciliares, que antes fortaleciam vínculos, cedem lugar às redes sociais. O aumento da violência contribui para essas mudanças nas relações sociais e comunitárias, juntamente com questões relacionadas à renda familiar, levando muitos a ficarem em casa como forma de economizar. Alguns, entre quatro paredes, vislumbram um mundo ideal que não vivem mais, conectando-se virtualmente para conhecer diversas culturas. O que era para facilitar a comunicação agora é a principal forma de relação social para alguns. A educação virtual também cresce, com muitas faculdades adotando aulas no formato EAD, 100% online ou semipresencial, resultando em menos debates em sala de aula e menos interações sociais entre os estudantes. Isso contribui para o aumento da população sedentária e isolada.

Que em 2024 possamos refletir sobre nossos relacionamentos com o próximo e sobre viver em sociedade. Que as preocupações em conquistar e possuir não sufoquem a importância de estarmos juntos. Que não economizemos tempo para as coisas simples que agregam valores e nos fazem crescer como seres humanos. É crucial destacar que “viver é acalentar sonhos e esperanças, fazendo da fé nossa inspiração maior. É buscar nas pequenas coisas um grande motivo para ser feliz!” – Mario Quintana.

Compartilhe :

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp
Picture of Roberta Teodorico

Roberta Teodorico

Roberta Teodorico, mestre em Serviço Social pela UFPB e especialista em Gestão do Sistema Único de Assistência Social. Atualmente trabalha na rede do SUS e tem experiência em trabalhos com ONGs na capital, no médio sertão paraibano e no cariri do Ceará; na Assistência Social e como professora de Serviço Social. Agora, como colunista no Paraíba Atualiza, compartilha sobre temas relacionados ao cotidiano, direitos humanos e sociais e serviço social em seus amplos campo de estudos e pesquisas.